Cineasta de grande destaque, ainda está vivo e produzindo. O Festival de Cannes desse ano exibiu o mais recente longa do francês. Segundo a crítica, o velhinho desbancou muitos dos jovens diretores com um filme à Nouvelle Vague.
Em cartaz na Cinemateca estavam boa parte dos mais representativos filmes do diretor. Na ficção: Hiroshima, meu Amor, um dos principais filmes do cinema, inovador na estética, roteiro e interpretação dos atores; O Ano Passado Em Mariembad, que mexe no espaço e tempo da narração. Foram exibidos também Meu Tio na América, Stavisky ou o império de Alexandre, Muriel ou o tempo de um retorno.
Fui na quinta-feira, no último dia da Mostra, para conferir cincos curtas e média metragens documentários.
Sobre alguns deles é que vou falar um pouco mais detalhadamente.
Guernica
Com a narração de um poema, tomando como base pinturas, desenhos e esculturas de Picasso - principalmente a famosa tela homônima - e utilizando imagens da cidade destruída, Resnais documenta a devastação e o sofrimento ocorridos em Guernica, em 1937.
Como sabem da história, a tradicional capital basca sofreu um bombardeio teste, pré-segunda guerra. Com a conivência do general Franco, os alemães testaram as armas aéreas contra a população durante a Guerra Civil Espanhola.Alternando de planos e focos na tela, com um ritmo diferenciado na leitura do texto e diferentes modulações sonoras o diretor reforça a carga trágica do fato.
Impressionam a Guernica de Resnais e Picasso por serem protestos pessoais que têm abrangência e significado coletivo.
As estátuas também morrem
O início do documentário, ao espectador mais desavisado, pode parecer um ensaio sobre a arte africana. Ainda mais pela admiração do diretor pela arte e a influência das mascaras africanas na arte moderna (no Cubismo, na figura de Picasso, principalmente).
Mas a película não é nada disso. Condena contundentemente o colonialismo e racismo europeu.
Tanto que foi proibida na França entre 1953 e 1963 através do Dectero Laval. Esse mesmo decreto impedia a filmagem pelos próprios africanos, configurando um obstáculo a cinematografia do continente.
Com uma narrativa irônica e crítica, passam na tela cenas de pessoas, artistas e esportistas negros em confronto e fuga. Opondo sempre etnias, colonizador e colonizado. Uma crítica devastadora ao Ocidente.
Noite e Neblina
Sobre o Holocausto é uma obra que não se pode ignorar. Seja cinéfilo ou não. Ou seja, se vive é preciso que veja. François Truffaut disse que é uma "aula de história cruel mas merecida".
O documentário de 32 minutos foi feito para celebrar os dez anos da liberação dos campos de concentração e homenagear as milhões de vítimas.
O cineasta foi convencido de filmar ao ser apresentado ao poeta Jean Cayrol, um sobrevivente de campo de concentração. O músico Hanns Eisler compôs a trilha sonora. Resnais passou a coletar imagens de cinejornais, fotografias e todo tipo de documento que mostrasse os campos de concentração, dentre eles Auschwitz e Sachsenhausen.
Opõem-se as atuais gramíneas verdes e o céu azul, quase pastoris, ao horror do cadáveres que ali estavam a apenas alguns anos. Misturam-se as filmagens atuais com as históricas.
Descreve pormenorizadamente desde a construção dos campos de concentração, passando pelo cotidiano que ali existia até a extinção. Toda a desnecessária desumanidade nazista está ali: experiências, (…), a irracional acumulação e a organização do extermínio.
As vítimas são exibidas desde o embarque nos trens até o genocídio, cremação, acumulação de cadáveres.
Imagens atuais mostram os dormitórios, as salas de experiências, as câmaras de gás com as marcas das unhas das vítimas no teto, os fornos.
Mostra os julgamentos. Os Capos e oficiais dizendo não serem os responsáveis. Mas quem são então os responsáveis, o filme questiona e nós nos questionamos.
Expostos ao máximo da constante oposição e do temor do antigo e nefasto contra o colorido e vivo o documentário termina num questionamento e reflexão: “Ainda existe os que olham sinceramente para estas ruínas como se o antigo monstro dos campos estivesse morto por debaixo dos escombros, que fingem ter esperança à frente desta imagem que se afasta como se curasse a peste totalitária. Nós que fingimos acreditar que isto pertence a um único tempo e a um único país e que não olhamos à nossa volta. E que não ouvimos que se grita sem fim."
Sobre o Holocausto é uma obra que não se pode ignorar. Seja cinéfilo ou não. Ou seja, se vive é preciso que veja. François Truffaut disse que é uma "aula de história cruel mas merecida".
O documentário de 32 minutos foi feito para celebrar os dez anos da liberação dos campos de concentração e homenagear as milhões de vítimas.
O cineasta foi convencido de filmar ao ser apresentado ao poeta Jean Cayrol, um sobrevivente de campo de concentração. O músico Hanns Eisler compôs a trilha sonora. Resnais passou a coletar imagens de cinejornais, fotografias e todo tipo de documento que mostrasse os campos de concentração, dentre eles Auschwitz e Sachsenhausen.
Opõem-se as atuais gramíneas verdes e o céu azul, quase pastoris, ao horror do cadáveres que ali estavam a apenas alguns anos. Misturam-se as filmagens atuais com as históricas.
Descreve pormenorizadamente desde a construção dos campos de concentração, passando pelo cotidiano que ali existia até a extinção. Toda a desnecessária desumanidade nazista está ali: experiências, (…), a irracional acumulação e a organização do extermínio.
As vítimas são exibidas desde o embarque nos trens até o genocídio, cremação, acumulação de cadáveres.
Imagens atuais mostram os dormitórios, as salas de experiências, as câmaras de gás com as marcas das unhas das vítimas no teto, os fornos.
Mostra os julgamentos. Os Capos e oficiais dizendo não serem os responsáveis. Mas quem são então os responsáveis, o filme questiona e nós nos questionamos.
Expostos ao máximo da constante oposição e do temor do antigo e nefasto contra o colorido e vivo o documentário termina num questionamento e reflexão: “Ainda existe os que olham sinceramente para estas ruínas como se o antigo monstro dos campos estivesse morto por debaixo dos escombros, que fingem ter esperança à frente desta imagem que se afasta como se curasse a peste totalitária. Nós que fingimos acreditar que isto pertence a um único tempo e a um único país e que não olhamos à nossa volta. E que não ouvimos que se grita sem fim."
4 comentários:
Já estudei sobre o quadro de Guernica, do Picasso... as minhas professoras adoravam, tanto a de artes, quanto a de história, e realmente é muito bem feito, afinal, é um Picasso!
E também já assisti um documentário sobre Auschwitz, não foi o "Noite e Neblina"... acho que o nome mesmo era "Auschwitz", que seja... Chocante, talvez, mas é como vc disse, "aula cruel, mas merecida!". Muito bom post! ;D
Rafael, e você disse que eram apenas alguns exercícios, algo sem muita pretensão... PARABÉNS PELOS TEXTOS. Serei leitor constante. Abraço!
Rê, o quadro do Picasso é realmente fantástico. Devem ter sido ótimas influências as suas professoras de arte e de história.
A frase do Truffaut de fato sintetiza a obra e outras do gênero. Temos realmente que vê-las para que os erros não se repitam.
Yeso, obrigado mesmo pelo apoio.
No embalo do que você escreveu no Português B, ficarei verdadeiramente feliz se o blog suscitar alguma reflexão, discussão sobre o cinema e os temas que pretendo abordar.
Olá, kR. Como tinha dito que faria, assisti dois do documentários, "Noite e Neblina" e "Guernica". Na verdade assisti há mais de uma semana, logo quando você postou, mas esqueci de comentar. E tenho que admitir, mesmo depois de vários dias, algumas imagens ainda continuam assombrando minha cabeça. aehuaehauehueha
Impressionante a maneira como o Resnais trabalha nos dois filmes. Enquanto que no "Noite e Neblina" ele nos mostra tudo com um realismo assustador, no "Guernica" ele consegue impactar da mesma maneira, só que de um modo extremamente artístico. Tensão. =O
No mais, adorei as recomendações e fico no aguardo de novos textos. Quando você atualizar, me dê um toque. Valeu.
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